Narrador
-Esta poderia ser a história de tantos outros que não eu , mas pensei, porque não? Porque não contar a minha história? Se de tanta inutilidade e desinteresse estão outras vidas cheias?
Porque não partilhar esta minha história, que talvez, sirva até de alerta para outros, que neste momento nascem para o mundo, nascem para a realidade ... nascem para a vida?
Digamos então que o meu nome é Jel. Não é que esse seja o meu verdadeiro nome ou coisa que se pareça, mas toda a minha vida fui assim tratado e sempre gostei.
Tudo começou quando eu ainda era criança, teria talvez os meus seis ou sete anos e vivia em Guimarães com os meus pais.
Tínhamos uma vida razoavelmente feliz. Casa, carro, comida na mesa... Hoje olho para trás e penso que esses seriam os melhores dias da minha vida, tinha tudo o que poderia desejar e não sabia. Era feliz com os meus pais, éramos só nós três numa modesta casa de dois andares, com dois quartos, uma sala, uma cozinha, uma casa de banho e uma cave.
A cave. Lembro-me de ver o meu pai na cave horas a fio. Ele trabalhava lá. Trabalhava ... como quem diz. Nas horas vagas dedicava o seu tempo à construção de móveis clássicos, de madeira. Era o seu hobbie.
A cave sempre foi um mistério para mim. O meu pai não gostava de me ver por lá a importuna-lo.
Eu aceitava isso mas sempre com alguma curiosidade.
Toda a minha felicidade de inocente criança haveria de ter um final, e sem que nada o fizesse prever, esse dia chegaria muito antes que eu tivesse sequer pensado nele.
Lembro-me de estar na cama numa típica noite de Verão, como tantas outras. Até que, quando eu quase já fechava os olhos para dormir, ouvi um estrondo.
Nunca na minha vida tinha ouvido tal coisa, foi um barulho ensurdecedor, vindo da parte mais baixa da casa. Pensei para mim -a cave- e saltei da cama.
Desci as escadas muito rapidamente até que parei no último degrau e me deparei com uma cena horrível, comparável à de filme americano - o meu pai no chão, esvaído em sangue e a minha mãe abraçada a ele, chorando como se o mundo tivesse acabado. O meu pai havia sido baleado na sequência de uma tentativa de assaltado à minha casa. Heroicamente, enfrentou os tenazes meliantes que tentavam levar tudo o que podiam e um baleou-o, no peito.
Pouco tempo depois, a minha mãe deu entrada numa clínica para doentes mentais. Nunca chegou a ultrapassar a morte do meu pai, principalmente porque o viu morrer ali, na sua frente. Uns meses mais tarde, conseguiu fugir da clínica e enforcou-se numa árvore, junto a um rio sujo e sombrio como a noite.
Sem ter quem cuidasse de mim, dediquei-me à vida do "crime" fazendo uns roubos aqui e ali para me sustentar. Uns tempos depois apanharam-me e fui viver para um reformatório até aos 18 anos. Nessa altura como que me "expulsaram" de lá.
Tornei-me num "sem-abrigo" até arranjar um emprego numa fábrica têxtil.
Lá conheci o que até então pensava ser o amor da minha vida. Isabel.
Uma morena linda, com uns olhos profundos que sempre que me olhavam pareciam ler a minha mente . Cabelos ondulados e um corpo perfeito, de agradecer aos céus.
Foi com a Isabel que tive as minhas primeiras experiências . Drogas , álcool, tabaco, sexo ...
Era uma rapariga louca, tão ou mais louca quanto eu, e é com ela que estou, até aos dias de hoje.
gostei, gostei ...
ResponderEliminar"Jel e Isabel" ahahahha :)
continuem*