É uma história longa.
Senti hoje pela primeira vez o medo. O medo de tudo e de nada. De ficar só, de não ter quem me abrace quando preciso e de não ter uma palavra amiga no momento certo.
A minha vida tem sido uma verdadeira panóplia de sentimentos. Com certeza que se desmaterializaram, como se tivessem sido colocados numa batedeira, girando vezes e vezes e sem conta, e saíssem desfeitos pelas lâminas cortantes da mesma.
Já não sinto mais com o toque, com o olfacto, com o paladar ... Parece que tudo se transformou e evoluiu, menos eu. As sensações de outrora dissiparam-se, não voltando mais para que eu as pudesse sentir.
Tocar já não tem o mesmo gosto. Sentir os cheiros que o mundo tem, deixou de me dar prazer e o que algum dia cheguei a saborear e a considerar delicioso ou até mesmo divinal desfaz-se agora entre os meus dentes como se de serrim se trata-se.
Tenho perdido todas as emoções, algures, por aí. Todos os sentimentos escapam-se-me das mãos, tornando-se leves como hélio, até ao ponto que já não os consigo apanhar e os deixo fugir.
Carrego nas costas o peso da inutilidade humana. Eu que tenho sido inútil, ou pelo menos assim me sinto . Tantas vezes reles, tantas vezes fútil e promíscuo. Tantas vezes demasiado mesquinho, eu fui sem que alguém me castigasse.
E já depois de ter experimentado tudo, de ultrapassar a barreira do excesso, do abuso e do inatingível, procurei sempre mais, sem que me deixasse aperceber que estaria cego pela ganância e pela ambição.
A procura de sensações tornou-se uma constante no meu quotidiano, sem que olhasse para o lado e percebesse que tanta gente no mundo merecia que eu fosse melhor, mais útil ...
Não é que considere isto o muro das lamentações ou algo do género, mas sentia a necessidade de deitar cá para fora o que sinto, o que me entristece e me torna miserável.
Aos poucos desfaço-me, desapareço.
Neste preciso momento, o som da água corrente do rio acalma-me e faz-me pensar.
-Estou a agir bem? Já sei que não- concluo eu de forma perspicaz.
Preciso de mudar, preciso mesmo, antes que toda esta loucura se apodere de mim e me enlouqueça ainda mais.
Acima de tudo, e em primeiro lugar, preciso de olhar à minha volta.
Pressinto que tanta gente gosta de mim. 
Com uma espada de aço frio, gélido até, e sólido desfaço em milhões de pedaços esta capa protectora que me envolve e que não deixa que se aproximem de mim. Estou aberto a sensações, de novo.
As lágrimas cristalinas e salgadas como água do mar evaporaram da minha face. Resta apenas a vermelhidão, mas como a tristeza, é temporária.
Voltarei a ser feliz, tenho tudo para tal. Prometo.

Para : S, D, R, F, F, A, M .
Obrigado por fazerem parte da minha vida, SEMPRE ! Obrigado.

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