Alguém ?

Vagueava pelas ruas da cidade na noite de seis de Julho de 1993 .
Era um Verão particularmente quente durante o dia mas a noite revelava-se bastante amena , boa para longas caminhadas e saídas .
Tinha chegado a casa por volta das 17:00 horas , já o meu turno tinha acabado fazia duas horas , mas tinha decidido ir até à praia , que ficava a mais ou menos quinze minutos da minha casa .
Era um dia de muito sol , muito calor e a praia estava inundada de gente que procurava um refresco nas águas do mar .
Eu gostava mais de caminhar à beira mar e adorava ouvir o som das ondas a rebentar nos rochedos que se encontravam uns setenta metros atrás de mim .
Nesse dia fora especialmente difícil para mim ouvir , pois o ar era preenchido na sua totalidade por gargalhadas infantis das crianças que brincavam na areia .
Por volta das 16:30 decidi volta para casa e começar a escrever o meu novo livro , para o qual ainda não tinha arranjado nome .
Sentei-me na secretária do escritório de minha casa e ali estive durante mais de uma hora e nada . Estava complicado para mim conseguir pousar a caneta no papel e escrever qualquer coisa nesse dia .
Desisti já passavam alguns minutos das 18 horas . Era hora de fazer o jantar .
Como vivia sozinho tinha que cozinhar para mim , coisa para o qual até tinha bastante aptidão e que até gostava de fazer .
Hoje apetecia-me bifinhos de perú , mas que treta : NÃO HAVIA BIFES !
Bem , teria que me contentar com outra coisa . Pensei então em comer uma salada . Que caraças : NÃO HÁ ALFACE ? - disse eu em voz alta , para mim mesmo :
-Realmente , estou a precisar de ir ás compras !
A vida de um homem que vive sozinho é deveras difícil . Bem , de difícil não tem nada , mas é de tal maneira desleixada que até mete dó .
-Bem , o que é que vou comer ?
Decidi então esperar mais umas horas e mais tarde ia jantar fora . Realmente , naquele dia não me estava a apetecer fazer nada , muito menos meter-me atrás das panelas da cozinha .
Ás 21:00 horas decidi então sair de casa . Ao bater a porta da rua , olhei para o meu carro e pensei :
-Hoje vou a pé . Ando a precisar de apanhar ar !
O restaurante mais próximo ficava a cerca de 3 quarteirões da minha casa e como tal ainda era uma boa caminhada , mas também , não me fazia mal nenhum ir a pé , bem pelo contrário .
Começava a anoitecer por esta hora e já pouca gente se via na rua . No caminho ainda ia cumprimentando um vizinho ou outro , que se deixava ficar sem jantar até mais tarde ou que então ficava a regar o seu jardim nesta hora que nem era quente nem fresca .
Finalmente , cheguei ao restaurante já eram 21:34 . Que fome !
Nem precisei de pedir a ementa , eu queria bifinhos de perú .
O empregado perguntou-me o que queria para beber e eu , pensativo , acabei por responder que queria uma Coca-Cola .
O jantar estava divinal , admito . Talvez fosse por culpa deste meu desejo súbito de comer bifinhos de perú , mas tive a sensação de que já não comia tão bem fazia muito tempo .
Passava já das 22:00 quando chamei o empregado :
-Traga-me a conta por favor .
Bolas ! Três contos por isto ? Estava muito bom , mas não justifica tanto dinheiro .
Acabei por lá deixar três contos e quinhentos no prato . Para além de vir sem moedas , achei que o empregado merecia uma gorjeta .
Quando saí do restaurante já era noite , e bem noite .
Como não tinha trazido carro teria que voltar a pé :
-Caraças , agora não me apetecia nada !
Estava mesmo cheio .
Fui a passo pouco acelerado . Nem me apetecia andar e ao mesmo tempo não tinha pressa .
Ia eu então , já no segundo quarteirão a caminho da minha casa quando vi dois vultos ao fundo dessa rua .
Consegui perceber que era um homem e uma mulher , mas estavam a mexer-se de uma forma estranha .
Estavam a discutir .
O homem agarrava a mulher com muita força , enquanto a mesma lhe gritava e tentava escapar das suas "garras" .
De repente , notei que a discussão ficou mais feia e foi aí que o homem tirou uma arma do bolso e baleou a mulher , que caiu de imediato no chão .
O homem fugiu .
Eu corri em direcção aquela mulher e quando a vi estava esvaída em sangue e estatelada no chão . Achei incrível que com tantas casas na rua ninguém tivesse dado por nada , ou então tivesse,  mas que por medo não viesse ver o que se passou .
Com aquela mulher à minha frente , gritei por ajuda :
-ALGUÉM AJUDA ? ALGUÉM ?

Continua ( ... )

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